domingo, 16 de outubro de 2011

A história do horário de verão

O horário de verão chegou. Regiões sul, sudeste e centro-oeste e, agora também, o estado da Bahia (observe o mapa acima) adiantaram em uma hora seus relógios a partir da zero hora de domingo, dia 16/10. No verão, os dias são mais longos por causa da posição da Terra em relação ao sol. Com isso, a luminosidade natural pode ser melhor aproveitada adiantando o relógio em uma hora. O principal objetivo do horário de verão é aproveitar por mais tempo a luz solar e, assim, economizar energia elétrica.
Para que você entenda melhor o que estou tentando explicar,  é preciso que dois conceitos importantes sejam assimilados: solstícios e equinócios.

Os solstícios
Na astronomia, solstício (do latim sol + sistere, que não se mexe) é o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, ou seja, seu maior ponto de afastamento no norte, na altura do Trópico de Câncer,  e seu maior ponto de afastamento no sul, na altura do Trópico de Capricórnio. Os solstícios ocorrem duas vezes por ano: em dezembro e em junho. O dia e hora exatos variam de um ano para outro. Quando ocorre no verão significa que a duração do dia é a mais longa do ano. Analogamente, quando ocorre no inverno, significa que a duração da noite é a mais longa do ano.
No hemisfério sul o solstício de inverno ocorre por volta do dia 21 de junho e o solstício de verão por volta do dia 22 de dezembro. Estas datas marcam o início das respectivas estações do ano neste hemisfério. Já no hemisfério norte, o fenômeno é simétrico: o solstício de verão ocorre em junho e o solstício de inverno ocorre em dezembro.

Iluminação da Terra pelo Sol durante o solstício do hemisfério norte (21/06 - início do verão no hemisfério norte, portanto, solstício de verão neste hemisfério; analogicamente, neste mesmo dia tem início o inverno no hemisfério sul, solstício de inverno neste hemisfério)
Iluminação da Terra pelo Sol durante o solstício do hemisfério sul (22/12 - início do inverno no hemisfério norte, portanto, solstício de inverno neste hemisfério; analogicamente, neste mesmo dia tem início o verão no hemisfério sul, solstício de verão neste hemisfério)
 Esta figura mostra a declinação do Sol em latitude, ou seja, maior afastamento do Sol em relação ao Equador em direção ao Trópico de Câncer,  no hemisfério norte, ou em direção Trópico de Capricórnio, no hemisfério sul.

 Os equinócios

Os equinócios são estágios intermediários entre o solstício de verão e o de inverno em determinado hemisfério. Ou seja, o equinócio ocorre quando a incidência maior de luz solar se dá exatamente sobre a linha do Equador.
Então, diz-se que é equinócio de outono para o hemisfério que está indo do verão para o inverno e equinócio de primavera para o hemisfério que está indo do inverno para o verão.
A palavra equinócio vem do Latim, aequus (igual) e nox (noite), e significa "noites iguais", ocasiões em que o dia e a noite duram o mesmo tempo. Ao medir a duração do dia, considera-se que o nascer do Sol (alvorada ou dilúculo) é o instante em que metade do círculo solar está acima do horizonte, e o pôr do Sol (crepúsculo ou ocaso) o instante em que o círculo solar está metade abaixo do horizonte. Com esta definição, o dia e a noite durante os equinócios têm igualmente 12 horas de duração.
Os equinócios ocorrem nos meses de março e setembro quando definem mudanças de estação. Em março, o equinócio marca o início da primavera no hemisfério norte e do outono no hemisfério sul. Em setembro ocorre o inverso, quando o equinócio marca o início do outono no hemisfério norte e da primavera no hemisfério sul. As datas dos equinócios variam de um ano para o outro.

Iluminação da Terra pelo Sol no momento do equinócio.



Observe a imagem abaixo, ela foi postada pelo Rodrigo, aluno de física na UERJ, postou no seu blog


Na primeira foto, tirada em junho (próxima ao solstício de inverno), o Sol de põe no ponto 1, e apresenta deslocamento máximo em direção nordeste. 
Na quarta foto, em dezembro (próximo ao solstício de verão), o Sol se põe no seu deslocamento máximo à sudeste. 
Depois disso, retorna em direção ao leste (ponto 2), que marca o equinócio, apresentado na quinta fotografia. Obviamente, trata-se de um ciclo anual.


O solstício de verão, no hemisfério sul, e sua relação com o horário de verão

Estamos em plena primavera, ou seja, um estágio intermediário entre o inverno e o verão. Isso significa que os dias, aqui no hemisfério sul, estão cada vez mais longos e as noites cada vez mais curtas. É aí que entre a ideia de adiantar os relógios em uma hora no fuso horário oficial local, no nosso caso é o de Brasília, para aproveitar melhor as horas de Sol.
Essa ideia não é nova e também não é exclusiva do nosso país. 
O horário de verão foi cogitado pela primeira vez em 1784, por Benjamin Franklin, um dos homens mais influentes da história política e científica dos Estados Unidos. Partindo da observação de que, durante parte do ano, nos meses de verão, o sol nascia antes que a maioria das pessoas se levantasse, ele concluiu que, se os relógios fossem adiantados, a luz do dia poderia ser mais bem aproveitada.
A idéia, na época, não chegou a sair do papel. Em 1907, na Inglaterra, um construtor chamado William Willett, membro da Sociedade Astronômica Real, deu início a uma campanha que propunha alterar os relógios no verão para reduzir o que classificava de "desperdício de luz diurna". Willett morreu em 1915, um ano antes de a Alemanha adotar sua tese e se tornar o primeiro país no mundo a implantar o horário de verão.

Quem adota o horário de verão?

Hoje, aproximadamente 30 países utilizam o horário de verão em pelo menos parte de seu território. As datas de início e término estam sempre relacionadas a uma estação do ano.
Grande parte das porções continentais do planeta está no hemisfério norte. Ali, o inverno costuma ser rigoroso com o Sol se pondo bem cedo e levantando-se vagarosamente durante o dia. No verão ocorre o contrário. É comum se ter claridade por volta das 20 ou até 22 horas. É por isso que nesses lugares o horário de verão faz muita diferença.



Nos Estados Unidos, o período em que se adota o horário de verão é conhecido por DST (Daylight Saving Time). Seguem abaixo alguns exemplos de países que adotam o horário de verão e suas respectivas épocas:
- Países membros da União Européia: último domingo de março ao último domingo de outubro;
- Estados Unidos, Canadá e México: abril a outubro;
- Rússia, Turquia e Cuba: março a outubro;
- Austrália, Nova Zelândia, Chile e Paraguai: outubro a março.
No Brasil, a história do horário de verão teve início na década de 30, pelas mãos do então presidente Getúlio Vargas: sua versão de estréia durou quase meio ano, vigorando de 1 de outubro de 1931 até 31 de março de 1932. Depois de 18 anos sem sua instituição, o horário de verão foi novamente adotado devido à queda do nível de água nos reservatórios das hidrelétricas, por volta de 1985/86. Após esse período, o horário de verão passou a ocorrer em todos os anos. 
Para ser implantado, o horário de verão deve ser decretado pelo Presidente da República, fundamentado em informações encaminhadas pelo Ministério das Minas e Energia, que toma por base os estudos técnicos realizados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, e indica quais as unidades da Federação serão abrangidas e o período de duração da medida.

Veja como a Hora Legal Brasileira fica alterada durante o período de vigência do horário de verão.

Mapa sem Horário de Verão


 Mapa com Horário de Verão 2011/2012  


Interessante, não é mesmo? Na prática, é como se todos os estados que adotaram o horário de verão tivessem sido deslocados 15º para o leste (15º= 1h. 15ºE significa 1h a mais, ou seja, 1h adiantada. 15º é a medida de um fuso horário. A Terra está dividida em 24 faixas de 15º cada), saindo, portanto, do 2º fuso horário brasileiro para o 1º fuso, aquele das ilhas oceânicas.

O polêmico caso da Bahia

A Bahia fez parte do horário de verão até 2002. O retorno ao regime especial é resultado de um estudo apresentado por empresários baianos ao governo local. 
Localizada numa região próxima ao Equador, como a maior parte do Brasil, na Bahia os dias e as noites têm duração igual ao longo do ano e a implantação do horário de verão traz muito pouco ou nenhum proveito.
Assim, se o objetivo principal da instituição do horário de verão é a economia de energia, sua adoção na Bahia pode ser questionada. 
A principal queixa diz respeito ao horário de verão alterar o relógio biológico das pessoas.
Os efeitos do horário de verão são semelhantes ao de uma viagem de avião em que se cruza um fuso horário. O nosso organismo possui diversos ritmos sincronizados entre si, como a temperatura, o sono, entre outros.
Com o horário de verão ou a mudança de fusos horários, o organismo tende a sincronizar seus ritmos ao novo horário, no entanto, como cada ritmo tem uma velocidade própria de ajuste ao novo horário, a relação de fase entre os ritmos é modificada. Após alguns dias ou semanas a ordem temporal interna é restabelecida. 
Analise as tabelas a seguir,  elas mostram a expectativa do Operador Nacional do Sistema Elétric - ONS para os 133 dias do HV 201-2012. Analise, especialmente os dados da Bahia.

A quais conclusões vocês chegaram?
Bem, pelo menos duas podem ser destacadas.
1ª - Pelos motivos já espostos até aqui, a Bahia terá o pior desempenho entre todos os estados que adotaram o HV 2011-2012 no quesito economia de energia 10MWmed, a Região Sul, que tem três estados, vai economizar 50MWmed, ou seja, 16,6MWmed por estado;
2ª - A Bahia tem um desempenho ruim também no que diz respeito à redução da demanda, 140MW contra 600MW da Região Sul, ou 200MW na média por estada.

Contudo, e se serve de consolo para nós baiano, como mostrado na tabela 2, o maior efeito para nós está no fato do horário de verão diluir o horário de pico, evitando assim uma sobrecarga do sistema energético. Isso é possível, pelo fato da parcela de carga referente à iluminação ser acionada mais tarde, que normalmente o seria, motivada pelo adiantamento do horário brasileiro em 1 hora. O efeito provocado é de não haver a coincidência da entrada da iluminação, com o consumo existente ao longo do dia do comércio e da indústria, cujo montante se reduz após as 18 horas.

Forte abraço. Espero que tenha gostado deste post.

Aguardo seu comentáro.
Esron.

Nenhum comentário: